Desde há umas décadas – porque acho um equívoco nesta matéria dizer
“hoje em dia” – que a nossa vida profissional se alterou profundamente.
A maior parte de nós conhece casos dos nossos pais e mesmo dos nossos
avós, em que o padrão laboral era “um emprego para toda a vida”.
Pois isso, como muito bem sabemos, mudou. Nas nossas vidas
profissionais, é frequente mudarmos de empresa, de setor e até de profissão. E
mesmo que fiquemos décadas na mesma empresa a fazer as mesmas coisas, o ritmo a
que o mundo muda obriga-nos a estar em permanente evolução.
Se as empresas têm obrigação (legal até) de proporcionar formação aos
seus colaboradores, acredito que também os trabalhadores, por si, têm o dever
de se melhorarem continuamente.
Se estamos confrontados com uma crise pandémica que nos obrigou a
repensar tudo, consideremo-la como uma oportunidade. O facto das empresas terem
sido, vá lá, “forçadas” a colocar os seus trabalhadores em layoff deve ser
encarado como uma oportunidade para melhorar as suas competências e fortalecer
o capital humano das organizações.
Já os trabalhadores e mesmo os desempregados devem aproveitar esta
janela para investir em formação, académica ou profissional. Porque não fazer
um voluntariado numa atividade em que queremos saber um pouco mais ou
desenvolver competências?
Se aos indivíduos cumpre escolher o que fazer com as horas dos seus
dias, as organizações estão confrontadas com o desafio de desenhar programas de
formação adequados, pragmáticos e até individualizados, para elevar ao máximo
as capacidades dos seus trabalhadores. Os colaboradores, por seu turno, também
devem aproveitar a oportunidade para expressar aos seus superiores hierárquicos
quais os aspetos em que gostavam de saber um pouco mais e de melhorar. Ou mesmo
se gostariam de experimentar novas funções, úteis à sua organização.
Em meu ver, a redução da atividade empresarial não deve ser encarada
como um marasmo que temos de penosamente atravessar, mas antes como uma chance
de afinar agulhas, de inventar novas ferramentas e de potenciar talentos
anteriormente inexplorados.
Caminhamos para o retorno a uma vida mais ou menos normal. Dizem.
É minha opinião que as organizações e os indivíduos que utilizaram este
‘reiniciar forçado’ para fazer atualizações terão maior preparação e maior
motivação para o difícil período de recuperação que teremos pela frente, em que
teremos de trabalhar a dobrar.
Esta paragem terá sido muito útil para melhorar. Ou não. O tempo assim
o ajuizará.
Tiago Matias
Editor empregonosacores.blogspot.pt
tasmatias@gmail.com