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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

"Crescer e capacitar os outros", Opinião João Enes

Falar de liderança é abordar um conceito amplo, sendo um percurso individual e único.

Ao refletirmos acerca do nosso trajeto profissional, podemos concluir que desempenhar cargos de liderança, nem sempre é algo planeado. Poderá ser o resultado de uma série de eventos profissionais, que foram influenciados por pessoas chave, por valores pessoais e profissionais consistentes.

Acredito no valor de refletirmos, sobre as influencias que ajudaram a moldar o nosso caminho, quer trilhemos ou não a liderança, porque nos leva a entender onde estão os marcos primordiais que contribuíram para as nossas escolhas. São, pois, as nossas referências.

Constituem-se como referencias porque tem a disponibilidade e a visão, necessárias para cooperar no nosso desenvolvimento pessoal e profissional, quer pelo exemplo, quer pela orientação formal.

Desenvolver-se e capacitar os outros é importante para uma liderança que produza efeitos sustentados a médio e longo prazo. Acredito que bons lideres são aqueles que mantem uma "escada firme" para que todos tenham a oportunidade de a poder subir.

Sem dúvida que é essencial liderar bem, mas não menos importante é o facto de o líder ter de liderar a si próprio. Não parece óbvio, mas muitos de nós tem tantas inquietações e inseguranças pessoais que impedem o exercício da liderança com habilidade. É por essa razão que o líder precisa desenvolver uma visão sobre si próprio, tornar-se apto a descobrir quem está apenas a reagir às suas ações, quais das suas atitudes estão a causar hostilidade, rivalidade, cobranças e incluir os que estão em seu redor.

Acredito que os líderes que obtêm sucesso, são aqueles que criam equipas mais fortes, como no desporto onde se torna visível, a forma como um treinador consegue liderar os seus atletas, fazendo sobressair o melhor de cada um e vencer.

Durante muito tempo, quando se falava em liderança, pensava-se numa relação de superioridade entre líder e subordinados.

Hoje, são necessários profissionais capazes de superar os desafios que surgem diariamente. Estes querem trabalhar numa instituição ou serviço que lhes dê a oportunidade de por em prática o seu potencial.

Alguns autores enunciam três funções do novo líder: explorar, alinhar e dar autonomia. Explorar é o "caminho estratégico", a visão atenta das oportunidades e ameaças nos mares revoltos da gestão. Alinhar significa organizar e orquestrar a estrutura e as pessoas para o mesmo "Norte". Dar autonomia significa libertar a criatividade, a habilidade, a inteligência e o talento, quase sempre adormecidos nas pessoas.

Em suma, liderança significa o desenvolvimento de estratégias para tornar realidade a visão do futuro, gerindo as crises ao longo do caminho. Trata-se também de vencer batalhas políticas para garantir que na organização, todos estão a mobilizar as suas energias para concretizar as mesmas metas e os mesmos objetivos - um processo a que se chama "alinhamento emocional". O desafio consiste em saber como mobilizar os corações e mentes dos colaboradores para permitir que o processo ocorra eficazmente.

Por fim, há um aspeto fundamental que um líder deve observar sempre, o reconhecimento e a gratidão a quem faz parte da sua equipa, uma vez que estes tiveram a capacidade de evoluir para fazer acontecer os projetos. É sempre por intermédio destas pessoas que faremos as coisas e não sozinhos.


João Enes

Mestre em Gestão Pública

domingo, 7 de fevereiro de 2021

“Lealdade no âmbito das organizações”, por João Enes

A importância da lealdade no dia-a-dia, levou-me a partilhar algumas reflexões sobre este assunto, ajustando-o à realidade organizacional. Não entrando nos aspetos técnicos do funcionamento das organizações, todos temos a noção de que quanto mais satisfeitos, envolvidos e motivados para os resultados estratégicos da organização, mais consistente será a fidelização de cada colaborador.

Os colaboradores são leais à organização quando se sentem bem e quando se identificam com esta. Nesta ótica, o que significa lealdade às hierarquias e confiança nestas? Significa uma relação win-win. Ou seja, uma relação em que ambos ganham, o que nem sempre é um processo simples, porque as incertezas, as exigências e o facto de estarmos perante uma relação com níveis de poder diferentes tornam, por vezes, esta relação mais complexa. Para a hierarquia, é desejável ter colaboradores cuja confiança seja acima da média, cuja lealdade permita à hierarquia delegar e apoiar. Isto é, desenvolver as suas competências na função mas, simultaneamente, defender e promover os seus colaboradores.

A lealdade de um colaborador deverá ser para com a organização. Contudo, as organizações são constituídas por indivíduos e grupos, sendo o trabalho em equipa condição fundamental para o bom ambiente e para o sucesso na execução das tarefas e atividades que são atribuídas, pelo que a lealdade e o compromisso com valores da organização deverá ser a primeira regra.

O poder, a ética, a lealdade ea fidelidade, convivem todos os dias nas organizações onde, por vezes, a necessidade imperiosa de sucesso e poder de alguns indivíduos, que tudo fazem para obter esse poder, geram ambientes antagónicos, o que poderá condicionar o processo de alinhamento estratégico. Então o que é desejável? Antes de mais a credibilidade, transparência e rigor são factores de êxito.

Procurar ter lideranças, cuja capacidade de adaptação, de foco nos objectivos e nas premissas base da organização, possibilitam a implementação de estratégias de modo sustentado. De igual modo ter colaboradores informados, motivados e com elevado grau de compromisso, que participam, que tem possibilidade de ser/ter voz ativa dentro das organizações, fomentará a estabilidade e o crescimento da instituição. Estes até podem ser "inconformados", desde que exista o entendimento de que esta postura não é contra os valores e princípios da organização, mas sim que pode trazer valor e abertura para olhar um assunto numa perspectiva diferente.

Este "inconformismo" não deve ser confundido com a insatisfação do colaborador que considera que está tudo mal. Acontecendo isto, deverá ser uma preocupação da hierarquia compreender os motivos desta insatisfação e efectuar propostas de melhoria para envolve-lo. Se ele será leal? Bom, esse é o grande desafio.

Por vezes, confunde-se iniciativa com intromissão/ambição. Acaba por ser um conflito de egos na verdade, pelo que, não são só os colaboradores, que devem estar orientados para os objetivos e cultura da empresa. O líder também tem de estar e compreender a dinâmica da organização.

Só com colaboradores leais é que uma organização consegue crescer, consolidar e manter um plano estratégico sustentado a médio e longo-prazo.

João Enes

Mestre em Gestão Pública