sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

"Colaboração no trabalho: o espaço físico", por Pedro Almeida Maia

Qualquer gestor de recursos humanos preocupa-se, além de outras coisas, em promover a colaboração dentro das equipas. Não faltam medidas específicas para atingir esse objetivo, sendo uma delas — talvez a mais referida — a utilização de espaços adequados à colaboração, ou seja, condições materiais que facilitem a proximidade física e a interação. Seguindo esta filosofia, seria então expectável que um edifício desenhado de raiz para maximizar a proximidade e a interação entre os trabalhadores originasse o melhor exemplo de colaboração no mundo organizacional. Certo? Não propriamente. 

No decorrer dos últimos anos, os chamados “edifícios colaborativos” têm sido palco para inúmeros estudos sobre a interajuda. Ao contrário do que se previa, as conclusões demonstram que os trabalhadores, mesmo quando usufruem das predisposições físicas, encontram estratégias para evitar colaborar. As quatro principais escapatórias utilizadas são: concentrar-se nas colaborações já existentes; evitar procurar colegas de outras equipas ou departamentos; reduzir a flexibilidade dos procedimentos internos ao implementar novas políticas; e minimizar as interações sociais. Estes quatro subterfúgios são uma forma socialmente aceite de se desrespeitar a obrigação de colaborar e, em conjunto, aumentam a previsibilidade do dia-a-dia no trabalho — exatamente o oposto daquilo que se pretende numa cultura colaborativa.

Emprego nos Açores_Austin Distel ©

Não há nenhuma dúvida de que a base para a interajuda é a motivação individual. Se não existir motivação individual para a colaboração, a adaptação dos espaços físicos pode fazer pouco — ou absolutamente nada — pelo espírito de equipa. Se os trabalhadores constringem-se, demonstram pouca flexibilidade, evitam interagir e preferem comunicar apenas com os poucos colegas com quem normalmente cooperam, significa que não existe esse alicerce motivacional e que aqueles comportamentos manter-se-ão, mesmo num ambiente desenhado na perfeição.

Um espaço com proximidade física pode ajudar, mas é insuficiente se for uma medida isolada. O ambiente colaborativo deve permitir os mecanismos do acaso, incentivar os encontros aleatórios e promover a flexibilidade da interação. Um líder colaborativo e que partilha a sua visão é dos melhores incentivos à colaboração, porque inspira os subordinados e gera um sentido de comunidade à sua volta. As atividades de team building geram novas amizades entre os trabalhadores e melhoram as já existentes, o que aumenta a probabilidade de colaborações futuras. Agendar momentos descontraídos de partilha de ideias, sobretudo envolvendo mais do que uma equipa ou departamento, também predetermina um maior potencial de colaboração. Outra medida consiste em fornecer feedback regular sobre os comportamentos de colaboração, ou mesmo premiar atribuindo mérito e vantagens aos que cooperarem com maior devoção.

Para aquelas empresas que apetrecham os seus escritórios e estabelecimentos, ou mudam-se para novas instalações, e que depois não compreendem o porquê de certos comportamentos persistirem, lembrem-se: as condições materiais são o hardware das empresas; as pessoas são o software, que precisa de estar sempre atualizado. Se não houver desenvolvimento das pessoas, não haverá desenvolvimento das empresas.

in jornal Açoriano Oriental, 3 de fevereiro de 2021

Pedro Almeida Maia

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